Fundada em 6 de abril de 1995, a Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará (ACOSPER) nasceu do compromisso com a valorização das comunidades extrativistas e da biodiversidade amazônica. A iniciativa foi idealizada por seringueiros, pescadores e produtores rurais que se organizaram para garantir a comercialização justa da borracha e de outros produtos da floresta, insumos oriundos das regiões de Arapixuna, da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns e do Projeto de Assentamento Agroextrativista Lago Grande, na região oeste do Pará.
As demandas iniciais da Acosper estavam voltadas principalmente para a comercialização da borracha, além de produtos da sociobiodiversidade, como cumaru, cupuaçu, milho e mandioca. Para dar início às atividades, a primeira diretoria foi composta por moradores das comunidades de Guajará e Vila Amazonas, no PAE Lago Grande.
Em 1997, a cooperativa estabeleceu alianças estratégicas com o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Com esse suporte, foi possível instalar a usina de beneficiamento de borracha nas dependências do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR), no bairro da Matinha. No mesmo período, um contrato firmado com a indústria de pneus Pirelli garantiu a comercialização da borracha produzida pelos cooperados. O fortalecimento dessas parcerias levou, em 2001, à construção da sede própria da Acosper, anexa ao galpão onde funcionava a usina. No auge da produção, cerca de duas mil famílias foram diretamente beneficiadas pela atividade.
Em 2003, a cooperativa decidiu diversificar suas atividades e investir no processamento da castanha de caju para atender a uma demanda de mercado. No entanto, sem um estudo aprofundado de viabilidade, o projeto exigiu um grande investimento na instalação de uma usina de beneficiamento, que não teve o retorno esperado. A baixa rentabilidade da iniciativa levou a Acosper a interromper a atividade, resultando em um endividamento significativo. Com o acúmulo de uma dívida de aproximadamente 300 mil reais e o declínio da comercialização da borracha, a cooperativa passou por um período de recessão entre 2007 e 2015, reduzindo drasticamente suas operações.
Em 2015, uma campanha intitulada "ACOSPER, Sentimento de Nós", realizada em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro, buscou reanimar os cooperados e fortalecer a comercialização dos produtos da floresta e da agricultura familiar. Como resultado desse esforço, a cooperativa conseguiu apoio financeiro do Fundo Dema, permitindo a retomada de atividades produtivas e a participação em licitações do PNAE no município de Santarém. Apesar de fornecer alimentos para a merenda escolar, os recursos gerados não foram suficientes para reerguer completamente a cooperativa, que permaneceu em um período de baixa atividade até a realização de uma nova eleição em 2019.
Desde 2020, a Acosper integra o Programa de Economia da Floresta, conhecido como Floresta Ativa, do Projeto Saúde e Alegria, iniciativa essa que promove o empreendedorismo sustentável na Amazônia, fortalecendo cadeias produtivas como agroextrativismo, bioeconomia e serviços ambientais, buscando reduzir o desmatamento, gerar renda e fortalecer a segurança alimentar das comunidades da região.
A cooperativa vem expandindo sua atuação ao longo dos anos, fortalecendo cadeias produtivas sustentáveis, como a meliponicultura, a produção de óleos vegetais, a horticultura e a restauração florestal por meio de sistemas agroflorestais. Com um modelo cooperativista baseado no desenvolvimento comunitário e na preservação ambiental, a cooperativa tem sido um pilar essencial na construção de alternativas econômicas sustentáveis para os agricultores e extrativistas do oeste do Pará.
Mesmo diante de desafios, como a crise da borracha e dificuldades econômicas, a cooperativa soube se reinventar, diversificando suas atividades e firmando importantes parcerias. Atualmente, a Acosper conta com 280 cooperados distribuídos em 54 comunidades e 3 aldeias. Sua atuação contempla localidades na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Projeto de Assentamento Agroextrativista Lago Grande e Tapará, quilombo Maria Valentina e Floresta Nacional do Tapajós.
Sua estrutura organizacional é composta por quatro diretores, seis conselheiros administrativos e três conselheiros fiscais, que se reúnem a cada seis meses para discutir o encaminhamento dos projetos e a organização financeira.
Números e Impacto
• Mais de 28 anos de atuação promovendo a sustentabilidade e o desenvolvimento local.
• 280 cooperados, sendo 24% mulheres e 12% jovens.
• 195 associados envolvidos na produção de mel de abelhas nativas sem ferrão.
• Restauração florestal por meio de sistemas agroflorestais e redes de coletores de sementes.
• Produção de mudas florestais e frutíferas para fortalecer a agroecologia na região.
• Atuação em hortas comunitárias em três comunidades e uma aldeia, garantindo segurança alimentar e renda.
• Parcerias estratégicas com organizações como Vert/Veja, PSA, Coopaflora, Coomflona e Coopermunduruku.
Diferenciais
A Acosper se destaca pelo compromisso com a biodiversidade, valorizando o conhecimento tradicional ao trabalhar lado a lado com comunidades ribeirinhas, extrativistas e indígenas, fortalecendo saberes ancestrais e práticas sustentáveis. Suas parcerias estratégicas com empresas e instituições ampliam seu impacto e possibilitam o acesso a mercados diferenciados.
A cooperativa também se dedica ao fomento da restauração florestal, apoiando a criação de viveiros e a coleta de sementes para revitalização de áreas degradadas. Hoje, a Acosper segue firme em sua missão de transformar vidas e preservar a floresta. Com o intuito de promover a atuação e o protagonismo das mulheres e dos jovens agroextrativistas a cooperativa possui uma secretaria de mulher e uma secretária de jovens que vem construindo estratégias e ações específicas para esses públicos.